Há pouco mais de um ano, poucas pessoas conheciam Brock Purdy. O quarterback, que jogou por um tempo em Iowa State, se tornou o “Sr. Irrelevante”, como é conhecido o jogador que é o último dos 256 selecionados no draft da NFL. O tempo passou, e o atleta tem, neste domingo (11), a chance de escrever seu nome na história não apenas do San Francisco 49ers, mas de toda a liga, caso conquiste o Super Bowl, em duelo com o Kansas City Chiefs, com transmissão ao vivo pela ESPN no Star+.
Muita gente considerou a temporada dos 49ers no ano passado como perdida, quando Jimmy Garoppolo e Trey Lance, o então QB titular, se machucaram. O time, reconhecidamente um dos mais talentosos na liga, não teria um “condutor”, já que suas duas opções para a posição mais importante do futebol americano não teriam condições de atuar.
E foi mais ou menos com essa mentalidade, que praticamente para cumprir tabela, o técnico Kyle Shanahan deu uma chance a Purdy, que até então pouco tinha entrado em campo na NFL. Sua estreia como titular, no dia 11 de dezembro de 2022, foi contra ninguém menos do que Tom Brady e o Tampa Bay Buccaneers. E o novato “deu aula” no quarterback apontado quase como unanimidade como o melhor de todos os tempos. Em uma vitória dos 49ers por 35 a 7, Purdy conseguiu 16 passes completos em 21 tentados para 185 jardas e dois touchdowns.
Isso deu moral ao jovem jogador, que acumulou sete vitórias em sequência até a final de Conferência, contra o Philadelphia Eagles. Ele rompeu o ligamento colateral ulnar do cotovelo direito nos primeiros minutos de partida e viu os 49ers serem vítimas fáceis por 31 a 7, perdendo a chance de chegar ao Super Bowl no ano passado.
Purdy, assim como Lance e Garoppolo, se recuperaram de lesões, mas foi ele o eleito para ser o titular da franquia. Decisão completamente acertada, já que o time acumulou vitórias e foi o melhor da NFC. Mas insuficiente para alguns críticos, que insistem que ele é um produto criado por causa do talento que tem ao seu redor. Enquanto os Niners acumulavam 12 vitórias na temporada regular, eles frequentemente abriam vantagem no início dos jogos. Isso deixou muitos se perguntando se o time – e especialmente Purdy – seriam capazes de buscar viradas quando as coisas não começavam bem.
O que talvez muita gente não leve em consideração é que era justamente o quarterback um dos grandes responsáveis por acumular essas boas vantagens. E muitas vezes sequer precisava jogar no último quarto e muito menos ser encarregado de realizar atos heroicos no final do jogo. Não à toa, está na lista dos cinco finalistas ao prêmio de MVP.
Mas se muita gente ainda duvidava, os playoffs deste ano trataram de mudar completamente esse roteiro. Nas semifinais e finais de conferência, os 49ers ficaram atrás no placar e estiveram à beira do colapso, que os tirariam da disputa pelo título. E quando seu time mais precisou, Purdy esteve lá, convertendo lançamentos para seus companheiros.
“Não tenho coisas boas o suficiente para dizer sobre Brock. Tudo o que ele fez desde que chegou aqui foi jogar em nível de elite. Tudo começa com ele. Temos sorte de ele ser nosso quarterback. Ele sofre muitas cobranças sem motivo algum. Estou muito orgulhoso dele e animado por ter outro jogo com ele este ano”, opinou o running back Christian McCaffrey, o outro grande nome dos 49ers no ano, com 14 touchdowns na temporada regular e mais 4 agora, na pós-temporada.
O teste de fogo foi contra o Detroit Lions. Justamente na fase em que se machucou no ano passado, ele, ao invés de fazer um passeio pela memória, preferiu acelerar para o futuro. Com seu time perdendo por 17 pontos no início do terceiro quarto, a recusa de Purdy em olhar para trás ficou evidente ao liderar a emocionante virada de San Francisco.
Claro, ele teve dificuldades no primeiro tempo, com sete passes certos em 15 tentativas, apenas 93 jardas e uma interceptação. Mas foi sua coragem e energia em campo que realmente mudaram a sorte dos 49ers. Nos 30 minutos finais, ele acertou 13 de 16 passes para 174 jardas, com um touchdown e ainda 49 jardas corridas. As 315 jardas combinadas de passes e corridas de Purdy foram as maiores de um quarterback do time em uma vitória em finais de conferência. E mais do que isso, foram fundamentais para que San Francisco conseguisse a vantagem de 34 a 31 e se garantisse no oitavo Super Bowl da história da franquia.
Segundo Kyle Shanahan, as pernas de Purdy – seja por jardas ganhas com corridas, ou por evitar a pressão para levar a bola aos recebedores de passes – eram “a diferença entre vencer e perder”, discurso parecido ao do tight end George Kittle.
“Você já viu um daqueles pequenos dragões aquáticos que correm na água? Isso é o que eu imaginava toda vez que ele estava com a bola… Ele é simplesmente um garoto durão. Ele tem muita coragem. Quando precisa jogar em alto nível, todos ao seu redor ficam melhores”.
Logo após a partida, Purdy, ainda no calor da emoção, explicou a sua estratégia para “recolocar” seu time no jogo: “Você precisa encontrar uma maneira. Eu sinto que durante toda a minha vida eu mexi coisas assim aqui e ali. Desde que cheguei aqui, sinto que não fiz muito isso… Eu só estava tentando manter as correntes em movimento, continuar com a bola avançando e, obviamente, dar ao nosso time algum impulso e energia. Eu tinha que fazer isso, então fiz”.
Agora, o atleta tem a chance de conseguir o trunfo definitivo. Ele já superou a lesão no cotovelo do ano passado e vai para sua primeira aparição no Super Bowl. Além disso, se tornou um dos quatro quarterbacks (juntando-se a Ben Roethlisberger, Russell Wilson e Mark Sanchez) que venceram quatro jogos dos playoffs em suas duas primeiras temporadas.
Mas para chegar ao título, Purdy e os Niners terão que passar por Patrick Mahomes e os Chiefs. É um confronto que Purdy chamou de “especial para todos”, já que os Chiefs tiraram dos Niners o Troféu Vince Lombardi quatro anos atrás.
Muito se discutirá se Purdy, que até outro dia era o “Sr. Irrelevante”, conseguirá superar Mahomes, que já entra em conversas de melhor de todos os tempos. Mas não é assim que os Niners veem as coisas. Eles não querem que Purdy seja ninguém além do cara que já é, alguém que fará de tudo para vencer, assim como fez nas últimas duas semanas.
Eles querem que ele seja ele mesmo.
“Ele é um quarterback incrível. É um quarterback de Super Bowl e pretendo que ele nos leve à vitória”, encerrou o confiante fullback Kyle Juszczyk.
De acordo com a fonte espn.com.br