O defensor Gustavo Henrique, do Corinthians, teve que se transformar em goleiro no clássico contra o Palmeiras, no domingo (18), quando Cássio foi expulso aos 45 minutos do segundo tempo. Parece incomum, mas não são poucas as histórias de jogadores de linha que tiveram que se arriscar no gol. Pelé, o Rei do Futebol, passou por isso quatro vezes – e ele se considerava um bom arqueiro.
O momento mais marcante de Pelé como goleiro ocorreu em 14 de novembro de 1969, cinco dias antes de marcar o milésimo gol da carreira. Foi em um amistoso do Santos contra o Botafogo-PB, em João Pessoa.
Pelé chegou ao então chamado Estádio Olímpico com 998 gols. Quando o Peixe vencia a partida por 2 a 0, houve um pênalti a favor da equipe paulista. O Rei, a princípio, não quis bater, mas foi convencido por Carlos Alberto Torres. Com a bola na rede, chegou a 999 tentos.
O milésimo poderia ter acontecido na Paraíba, não fosse uma lesão de Jair, goleiro do Santos. Pelé se viu, então, obrigado a atuar debaixo das traves nos 15 minutos finais do jogo.
“Eu, como qualquer jogador, tinha que obedecer. O técnico falou: ‘O Pelé vai para o gol’. Mas foi para não sair o milésimo, né?”, explicou, anos depois, ao Esporte Espetacular.
Na versão de Aguinaldo Moreira, então goleiro do Santos e que não atuou na partida, houve uma espécie de “armação” dos jogadores do Peixe.
“Ele (Pelé) tinha preferência por marcar o milésimo em uma partida oficial e em uma das capitais, como São Paulo, Porto Alegre, Salvador ou Rio de Janeiro. Não queria de modo algum fazer gol se sentisse que os adversários estavam facilitando para ele”, disse, em entrevista à ESPN.
“O Jair Estevão foi quem jogou no gol naquele dia. E o combinado é que, se os caras começassem a dar algum sinal de que iam facilitar, ele simularia uma contusão. Aí, como não tinha outro reserva, o Pelé iria para o gol. Foi o que aconteceu, mas o público não gostou. Deu uma vaia imensa”, completou.
O clima de facilitação para marcar o gol mil vinha também das arquibancadas, com gritos de “deixa” entoados pela torcida do Botafogo-PB para seus atletas.
“A Paraíba toda gostaria que o gol fosse feito lá. Estavam presentes o prefeito de João Pessoa, o governador do Estado. Antes do jogo teve homenagens para o Pelé. Muitos torcedores foram ao estádio para torcer para ele marcar e não para festejar o time da cidade”, contou.
Em 19 de novembro daquele ano, cinco dias depois, contra o Vasco, o gol mil saiu.
Dez anos antes do amistoso contra o Botafogo-PB, Pelé jogou como goleiro em uma partida pela primeira vez – em 1959, pelo Campeonato Paulista, quando tinha apenas 19 anos e já era campeão mundial pela seleção brasileira.
Cinco anos depois, contra o Grêmio, pela Taça Brasil, a história se repetiu. A “aposentadoria” veio em 1973, em amistoso contra o Baltimore Bays, nos Estados Unidos.
Pelé nunca sofreu um gol. Ele dizia treinar na baliza na seleção e se considerava um bom goleiro. Ao todo, foram 54 minutos defendendo a meta do Santos.
Uma coincidência une as quatro partidas em que o Rei do Futebol foi goleiro: ele fez gol em todas. Pelé balançou as redes duas vezes contra o Comercial, três contra o Grêmio e uma contra o Botafogo-PB e o Baltimore Bays. O levantamento é do jornalista Tércio Brilhante. O Peixe venceu todos os duelos:
Santos 4 x 2 Comercial – 4 de novembro de 1959
Santos 4 x 3 Grêmio – 19 de janeiro de 1964
Santos 3 x 0 Botafogo-PB – 14 de novembro de 1969
Santos 4 x 0 Baltimore Bays – 19 de junho de 1973
De acordo com a fonte espn.com.br